“ Uma açorda sem azeite,
Também de seca chamada,
Era carne, pão e leite,
De quem não tinha mais nada.”
I
Neste Alentejo de agricultura
Com as sopas fazem feiras,
Mostrando boas maneiras,
Povo pobre, mas com cultura,
Do pouco se faz fartura,
A sopa de pão se enfeite
Que no prato se deite,
Para matar ao povo a fome,
Por vezes também se come
Uma açorda sem azeite.
II
No Verão se comia gaspacho,
A fome e sede ele ia matar,
O estômago estava a enganar,
Mas assim era um despacho,
Evitando um barbicacho,
Ter a barriga vazia, enganada,
A fome ficava acalmada,
O povo, com a fome sofria,
Comia, açorda de água fria,
Também de seca chamada.
III
Sopa de ossos era tradição,
No tempo das matanças,
Que são nossas lembranças,
De dias sem comparação,
Eram famílias em união,
Hoje não há quem respeite,
A tradição já não é aceite,
Os mais velhos davam a lição,
Assim se recebia uma bênção,
Era carne, pão e leite.
IV
A nossa nova sociedade,
Vive numa feira de vaidades,
Cheia de invejas e maldades,
Está a destruir a comunidade,
Em vez de criar a amizade,
De todos devia ser emanada,
Dos mais velhos foi herdada.
A nossa casa era bom porto,
A família era o conforto,
De quem não tinha mais nada.
Miraldino José Fialho de Sousa
Rua do Almeida, 32 - 1º
100-537 Estremoz
Data de nascimento: 23-09-1957
2010-09-21
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